A bússola é um ímã, assim como o planeta Terra. Todo ímã tem um pólo norte
e outro sul, sendo que os opostos se atraem. Por isso, o pólo norte
magnético da bússola (ponteiro pintado) aponta para o pólo sul magnético do
planeta que, por coincidência, está perto do pólo norte geográfico da
Terra.
"Algumas pessoas não sabem que a Terra é um ímã. Só que o pólo sul magnético do planeta fica perto do pólo norte geográfico. É por isso que a bússola está sempre apontando para o norte", explicou o professor de Física Bassam Ferdinian.
Que tipo de
bússola?
Vamos
nos restringir às bússolas de geólogo.
A
bússola de Geólogo
A bússola de Geólogo é um aparelho usado para atividades de campo mais técnicas como: Geologia, Engenharia Civil, Geomorfologia e Espeleologia.
Ela é a combinação de vários aparelhos: bússola, clinômetro, prumo, nível.
Uma bússola sempre
aponta para o Pólo Norte?
Respostas corretas poderiam ser: Sim! ; Nem sempre!; Quase nunca!
Depende apenas de qual Norte estamos falando, de que bússola temos, e de
onde estamos. Vamos
entender?
A
bússola eletrônica de um GPS e alguns modelos de bússolas eletrônicas (se
assim configuradas) podem apontar para o Norte, pois elas podem se orientar
por uma rede de satélites. Já as
bússolas magnéticas (e uma boa parte das eletrônicas), não. Aliás, antes
disso, devemos entender que existem mais de um Norte.
·
1. Norte
Verdadeiro (TN) - Posição geográfica da interseção do eixo de
rotação da terra, com a superfície no hemisfério Norte. Este é o Norte
Geográfico.
·
2. Norte
Astronômico (AN) – Aponta para a estrela Polar visível no
hemisfério Norte. Tem um desvio de aproximadamente 0.7º em relação ao Norte
Verdadeiro
·
3. Norte
Magnético (MN) – Ponto de convergência das linhas do campo
magnético da terra. Tem um desvio de 10º para Leste.
·
4. Norte da
Bússola (CN) – É a direção da reta tangente à linha do campo
magnético da localidade. Complicado? Bem
a explicação mais simples, é a
seguinte: as linhas de um campo
magnético são curvas, como naqueles ímãs dos livros de segundo grau. Mas para piorar, no caso da
Terra, elas são tortas, e a agulha
da bússola se mantém alinhada com esta linha de campo. Os erros podem variar de 0 até algo perto de
35º, muda com a latitude, longitude, altitude, e com
a ocorrência de anomalias magnéticas. (???) Calma,
vamos entender isso logo adiante.
Uma dúvida sobre
polaridade
Se a Física ensina que em magnetismo pólos
iguais se repelem, como é que a ponta Norte da agulha aponta para o Pólo
Norte? Será que os pólos da Terra tem nome trocado, ou são os pólos
da agulha que tem os nomes trocados? Nenhum dos
dois. Por convenção, foi chamado de Pólo
Norte Magnético aquele que ficava perto do Pólo Norte Geográfico. A
agulha da bússola é um magneto, e por convenção, leva o nome de Norte
a extremidade de um magneto que aponta para o Norte. Tudo claro
agora?
Para
fins de cartografia e orientação, qual o Norte interessa?
Sem dúvida, o Norte Verdadeiro ou seja o
Geográfico. Por convenção, o alinhamento vertical dos mapas
aponta sempre para o Norte Verdadeiro.
Declinação
Magnética
Para que uma bússola possa apontar para o
Norte Verdadeiro, é necessário fazer uma correção em seu círculo
graduado. O valor em graus desta correção, é chamada “Declinação Magnética”.
Por que declinação e não
inclinação? Simples, quem criou o termo foram pessoas do
hemisfério norte, onde o campo magnético desvia-se para Oeste, e por isso
devem-se subtrair do Azimute alguns graus para fazer a correção. Por
isso eles declinam a medida. Nós aqui acrescentamos alguns graus ao
Azimute, mas (sempre querendo concordar com os primos do Norte), usamos o
mesmo termo “declinar”.
Vale
a pena o trabalho de declinar a bússola?
A tabela abaixo mostra a diferença em graus
entre o Norte Verdadeiro e a Direção apontada pela bússola. Esta
diferença é a declinação a ser aplicada para diferentes regiões do
globo. É comum, e errado pensar que a declinação é a diferença entre
o Norte Verdadeiro e o Norte Magnético. Se fosse assim, ela seria
constante para qualquer lugar do planeta.
Localidade
|
Coordenadas
|
Declinação
|
Sydney - Austrália
|
34.0ºS 151.5ºE
|
13 ºE
|
Anchorage - USA
|
61.5ºN 150.0ºW
|
23 ºE
|
Buenos Aires - Argentina
|
34.5ºS 058.0ºW
|
06 ºW
|
Montreal - Canadá
|
45.5ºN 073.5ºW
|
16 ºW
|
Los Angeles - USA
|
34.0ºN 118.5ºW
|
14 ºE
|
Perth - Austrália
|
32.0ºS 116.0ºE
|
02 ºW
|
Rio de Janeiro - Brasil
|
23.0ºS 043.0ºW
|
21 ºW
|
São Petersburgo - Rússia
|
60.0ºN 030.5ºE
|
08 ºE
|
Ostrov, Bennetta, New Siberian
Islands
|
77.0ºN 148.0ºE
|
11 ºW
|
* Usando o modelo IGRF95 para a data de
1998, ignorando as anomalias.
Ok,
só não entendi a legenda da tabela!
De tempos em tempos, são levantados dados
de campo, e feitos modelos matemáticos que calculam a declinação para
uma localidade em um determinado ano. O IGRF95 é o modelo hoje em
vigor. Esta tabela foi obtida segundo cálculos deste modelo.
Ótimo,...
mas e as “Anomalias” ?
O campo magnético da terra não é fruto
apenas da “materiais ferromagnéticos” que a constituem. Ele é
gerado principalmente por correntes subterrâneas de magma complexas,
formando vórtices, e cada um destes vórtices (redemoinhos de lava)
provocam a formação de um dipolo magnético. Estes dipolos tem
intensidade diferente, orientação diferente, e são variáveis ao longo do
tempo. Além disso, o Vento Solar interfere deformando o campo
magnético da terra. Como se não bastasse, ainda podem existir
depósitos de minérios ferromagnéticos que também influem localmente.
No geral, o campo é relativamente bem orientado, mas em alguns
lugares (Ex: Triângulo das Bermudas), este erro é enorme e
relativamente dinâmico. A tabela acima, apresenta medidas genéricas,
e não se responsabiliza por anomalias locais.
A carta abaixo mostra através de curvas isogônicas, qual a declinação magnética em cada ponto do globo.
Por exemplo, a linha de valor -28º que passa sobre o sertão do nordeste brasileiro, indica que ao usar a bússola em qualquer ponto na proximidade desta linha, a bússola deverá ser declinada em 28º para Oeste. Beleza?!
Mas
a minha caminhada não é no Nordeste. Como saber a declinação correta?
Hoje, você visita um site da internet onde
existe uma interface onde você informa a localidade, a Latitude, a Longitude e o ano para o qual você quer a
declinação. O Observatório Nacional oferece este serviço.
Acesse: http://www.on.br/conteudo/modelo.php?endereco=servicos/servicos.html
Aí, você resolveu economizar uma grana e
comprar sua bússola no exterior...
Cuidado! Principalmente com as bússolas de
geólogo, pois com estas, queremos e esperamos que sejam
precisas. Saiba que uma bússola tem que ser balanceada para a latitude
onde ela vai trabalha. O vendedor deverá remeter a bússola para o
fabricante, para que eles calibrem a agulha.
Na fábrica, eles colocam um peso na ponta
Sul (no nosso caso), para que ela fique equilibrada. A intensidade deste peso depende da sua
latitude. Se não fizer isso, a agulha não vai ficar equilibrada sobre o
eixo central.
Bússolas geográficas, são mais
baratas, e são construídas para funcionarem mais ou menos bem entre
os trópicos.
Ok,
já sei que tenho que calibrar e declinar a bússola, e que correção
aplicar. Mas como é que se declina a bússola?
As bússolas Brunton mais modernas, bem como
as Silva 15 (Ranger), Suunto MC-1, e Nexus N15 possuem um parafuso de
ajuste. Este parafuso de ajuste, ligado a um sistema de
engrenagem, faz o disco de azimute girar, ou então um fundo de
acrílico girar. Isto facilita muito, pois as linhas meridianas
marcadas no disco de acrílico podem ser alinhadas com os meridianos do
mapa.
Conclusão: Se for comprar uma
bússola, certifique-se de que ela tenha o parafuso para ajuste de
declinação.
Usando
a bússola para orientar um mapa
As próximas instruções devem, se possível,
serem seguidas com um mapa e a bússola em mãos. Vai facilitar muito o
entendimento do texto.
A função mais básica de uma bússola em uma caminhada, é orientar corretamente o mapa.
Portanto, para orientar o mapa, precisamos da direção do Norte Geográfico, ou seja, de uma bússola que o indique.
Usando a bússola de geólogo, repouse-a declinada sobre o mapa, fazendo o eixo longitudinal dela (da lingüeta) coincidir com o meridiano. Então gire o mapa até que a ponta "N" da agulha coincida com o Zero da escala. Neste ponto o mapa estará orientado. Na figura ao lado, temos a bússola declinada de 19ºW, e o mapa deve ainda ser girado para a esquerda até que a agulha "N" coincida com o Zero da escala.
|
Extraindo
uma direção para caminhar
É normal você identificar sua posição,
orientar o mapa, e visar um ponto que você quer atingir. Neste caso, você
vai querer saber qual a direção (Azimute) em que você deve caminhar para ir
direto ao ponto.
Para isso, antes de orientar o mapa,
identifique no mapa sua posição atual e seu ponto de destino. No mapa
abaixo, imagine que você está na Faz. Brumado (pertinho da estrada), e quer
caminhar até o pico da Pedra Aguda.
Achou? Legal! Use a
régua de acrílico da bússola, e com um lápis, faça um traço que una estes
pontos (traço vermelho). Se achar necessário, trace uma reta paralela
ao meridiano, pois esta indica a direção norte no mapa (traço azul).
Coloque a bússola sobre o mapa, de preferência, com o eixo central sobre a
sua posição atual. Gire o mapa até que ele esteja corretamente
orientado (até que a ponta "N" da agulha coincida com o Zero da
escala).
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAxUJuDFjeVswNfvYvHcAFRCIn1hzWhaQj4zVMvX9laqtViymf-34gTSDzOuX2r5xhVeXjrFo4quGOG0Y9bVrfhUv_Thz5yCagE4mD_FfdHM9tZw9gFKIISjqFUA_pSrJ-CaCEarJuSto/s400/Mapa+topogr%25C3%25A1fico+2.jpg)
Olhando o ponto onde a linha que
você riscou (linha vermelha), intercepta o círculo graduado da bússola,
você poderá ver a direção a ser tomada (260º com o Norte, medido no sentido
horário). Agora, agora guarde o mapa, e com a bússola na mão,
gire a bússola até que a agulha "N" aponte para o ângulo 260º no
círculo graduado. Neste ponto, a lingüeta (mira) da bússola, estará
apontando para o Pico da Pedra Aguda. À medida do possível, caminhe
nesta direção, sempre de olho na bússola. Se estiver com a bússola
geográfica, siga na direção apontada pela seta vermelha gravada no acrílico.
Acontece que a bússola (que é parente do
GPS), adora indicar o pior caminho. Com isso, você de vez em quando, vai
ter que sair da direção correta para desviar de algum obstáculo (morro,
pântano, espinheiro, abismo, etc.) Ao fazer um desvio significativo,
ou depois de caminhar um bocado, você deve reavaliar a direção. Veja
que a direção era correta, para quem estava lá na sede da
Fazenda.
No nosso exemplo, tem um morro no caminho
(aquele cujo pico está na cota de 997 m). Claro que você desviou,
provavelmente pela esquerda. Quando você optou por fazer este desvio,
você deverá novamente reavaliar a direção. Veja no mapa abaixo, o
caminho pontilhado verde, é o que você caminhou, e a reta verde, é
sua nova direção.
Vemos agora que o Azimute deixa de ser 260º
para 275º. Ah! desculpe a mancada, a reta que indica o
norte traz o nome NM (Norte Magnético), quando na verdade é o NG
(Norte Geográfico).
Acho que agora ficou claro, porque muita
gente se perde navegando com bússola. A direção tem que ser
constantemente reavaliada!
Veja que talvez não fosse necessário, visto
que o Pico da Pedra Aguda deve ser bem visível, e está próximo (cerca de
4km). Mas ele poderia ser uma depressão, um encontro de rios,
uma caverna, ou qualquer outro ponto menos evidente.
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