quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Mapas geológicos e orientação no campo

Escala

A escala do mapeamento é determinada a partir do problema geológico a ser tratado. Mapas geológicos de escalas muito grandes incluem, por exemplo, aqueles de fundações de prédios para avaliar os problemas potenciais de engenharia. Mapas de escala muito pequena, como aqueles de estados e províncias, normalmente são feitos a partir da junção e compilação de mapas de grande escala de áreas menores e mais detalhadas.
Os termos “pequena escala” e “grande escala” referem-se ao tamanho do mapa em relação ao terreno representado. Desse modo, um mapa com escala 1:10.000 tem escala maior que um mapa 1:50.000.

Tipos de mapas geológicos

Os mapas geológicos dividem-se em:
     Mapas de reconhecimento
     Mapas geológicos regionais
     Mapas de grande escala (detalhados)
     Mapas especiais

Os mapas de pequena escala que cobrem regiões muito grandes são compilados a partir de um ou mais desses grupos.

Os mapas de reconhecimento geológico são feitos para descobrir o máximo de informação de maneira rápida. Utiliza-se escala 1:250.000 ou menor. Alguns são feitos por sensoriamento remoto (imagens aéreas e de satélites, combinando com modelos digitais do terreno, usando satélites e radares), com  um mínimo de trabalho no terreno.

Os mapas geológicos regionais devem ser apoiados por fotogeologia sistemática. As escalas variam de :25.000 a 1:50.000, embora alguns sejam de até 1:100.000. No Brasil, por falta de levantamento topográfico adequado, os geólogos acabam tendo que fazer esse levantamento.

Os mapas geológicos detalhados são feitos para investigar problemas específicos que surgem durante o mapeamento em escalas menores: alvos de prospecção, investigação preliminar de uma represa ou outros projetos importantes de engenharia. Utiliza-se escala: em torno de 1:10.000.

Os mapas especiais são mapas de grande escala de pequenas áreas, para registrar detalhadamente características geológicas específicas: pesquisa, fns econômicos, plantas de minas a céu aberto, geoquímica, geofísica etc. As escalas variam de 1:10.000 a 1:500.
A maioria dos dados é mantida em bases de dados georreferenciados SIG, que podem ser sobrepostos em mapas geológicos para estudas sua relação espacial com a geologia física.

Mapas Topográficos

São indispensáveis para o mapeamento geológico. No Brasil, algumas cartas topográficas digitais estão disponíveis no site do IBGE:

Área Mínima Mapeável

Este conceito se refere ao tamanho mínimo que um polígono deve assumir numa determinada escala visando o aproveitamento do dado que ele representa. Em cartografia, define o tamanho da área que um determinado objeto deve conter para que seja representado num mapa ou carta geográfica. O olho humano é capaz de distinguir até 0,2 mm (Acuidade Visual) sem nenhum tipo de lente.

A depender da escala utilizada, o tamanho da Área Mapeável define o tamanho do erro aceitável num mapeamento.

Posições encontradas em mapa

Quando em campo, um geólogo deveria ser capaz de dar seu ponto de localilzação em um mapa com um erro de até 1 mm da sua posição correta, não importando a escala do mapa; em outras palavras, deve ser capaz de se localizar em até 10 m no solo, em uma escala de 1:10.000, e em até 25 m em uma folha de 1:25.000. Quando apenas mapas de qualidade inferior estiverem disponíveis, vários dias serão necessários para o geólogo levantar as posições de pontos úteis para utilizar no mapeamento geológico. Se usar um GPS, não somente a posição determinada será conhecida, mas também sua precisão.

A precisão de um GPS é variável, pois depende do número de satélites visíveis, de suas configurações e de quanto tempo você ficou conectado a eles. Nunca confie totalmente em seu GPS, pois nem sempre ele estará acessível. Um geólogo deve saber localizar-se no planeta Terra sem precisar de um GPS.

Lendo seu mapa

Mesmo que você esteja usando o GPS, consulte seu mapa a fim de monitorar continuamente sua posição. Isso poupará tempo valioso em campo, pois chegar a um local e ter de se localizar a partir do zero pode demorar muito. Leve seu mapa embaixo do braço, e não dentro da mochila, e inspecione-o em intervalos regulares através da capa de proteção transparente da sua prancheta de mapas.

Quando estiver navegando:

1.    Segure seu mapa na orientação correta, usando sua bússola se necessário (Figura 3.5)
2.    Procure por feições no solo e confira se elas constam no mapa.
3.    Antes de deixar um local, olhe ao redor para ver se há mais exposições e tenha em mente qual será sua próxima parada. Então, faça uma estimativa dessa localização no mapa. Isso lhe ajudará a poupar tempo quando chegar lá.



Medição com passos

Como geólogo, você deve saber o comprimento do seu passo. Com a prática, você será capaz de determinar distâncias com a medida de seus passos, com uma margem de erro menor que 3 m em cada 100 m, até mesmo em solos ligeiramente acidentados. Isso significa que, quando você usar um mapa de escala 1:10.000, será possível medir 300 m de uma área com seus passos e ainda ter 1 mm de precisão admissível e acima de meio quilômetro se usar um mapa 1:25.000. Entretanto, a medição com passos não é recomendada para longas distâncias, a não ser que seja essencial. Com um GPS, distâncias maiores que 500 m podem ser medidas com a precisão de mais ou menos 5 m.
Estabeleça o comprimento do passo explorando 200 m sobre um tipo de solo comum (e não em um solo plano e asfaltado, como o de uma rodovia). Meça a distância com seus passos duas vezes em cada direção contando os passos duplos, pois eles são menos prováveis de serem contados erroneamente quando medimos longas distâncias. Dê um passo natural constante e, sem contar, tente ajustar seu passo a um comprimento específico, como por exemplo, um metro. Olhe para frente para que você não ajuste inconscientemente seus últimos passos para obter sempre o mesmo resultado.



Faça uma tabela com os passos e as distâncias e faça cópias. Anexe uma cópia na parte de trás da sua caderneta e uma no seu estojo de mapas. Ao usar essa tabela, lembre-se de que você reduziu seu passo nas subidas e descidas. Por isso, cuidado para não superestimar, isso é uma questão de prática. Se grandes distâncias precisam ser medidas com passos, passe um seixo de uma mão para outra ou de um bolso para outro após cada 100 passo, assim você evita perder a conta.

Localização com medição de passos e orientação com bússola

A maneira mais simples de localizar-se em um mapa, se uma simples inspeção é suficiente, é permanecer em um ponto desconhecido e medir a orientação com a bússola de qualquer feição impressa no mapa, como uma casa, o canto de uma cerca de pedras ou uma junção de rodovias. Você deve plotar a orientação no mapa (Figura 3.6). Meça a distância com passos, contanto que ela permaneça dentro da precisão para a escala do mapa que você está usando; trace a orientação inversa da feição, converta a distância dos passos para metros (usando sua própria versão da tabela de passos) e meça a distância ao longo da orientação inversa com uma escala.



Se você está usando uma bússola prismática, a maneira mais rápida de plotar uma orientação é com o método de marcar o ponto (MOP). Isso levará alguns segundos. Observe a seguir:  

1.    1.    Coloque seu lápis no ponto do mapa onde a observação foi feita (Figura 3.7a).
2.    Usando o lápis como um pino de apoio, deslize seu transferidor ao longo do lápis até que a origem do transferidor encontre-se sobre a linha Norte-Sul do mapa mais próxima ao ponto; então, mantendo a origem do transferidor sobre a linha do mapa, deslize e gire seu transferidor em volt do lápis ainda mais, até que ele leia a orientação correta (Figura 3.7b).
3.    Desenhe a linha de direção que passa pelo ponto de observação ao longo da borda do transferidor (Figura 3.7c).

Quanto maior o transferidor, melhor; é recomendado um de 15 cm. Se necessário, desenhe linha de coordenadas extras, se aquelas desenhadas em seu mapa de campo estiverem muito afastadas. Algumas orientações, como as que se encontram entre 330º e 030º, são mais fáceis de plotar a partir das linhas leste-oeste.



Estações ou pontos transversais

O levantamento com estações ou pontos transversais é um método simples de plotar detalhes em um mapa. É muito útil quando um grande número de pontos deve ser plotado em uma área pequena. Meça uma orientação com a bússola a partir de uma posição conhecida (p. e., a casa na Figura 3.8) e direcione para qualquer ponto conveniente situado na direção geral das exposições (a árvore na mesma figura) que você queira localizar no seu mapa. Meça com passos ao longo dessa linha até que você esteja em frente à exposição lateral a ser examinada. Largue a mochila e, então, meça seus passos em direção à exposição em ângulo reto à sua orientação principal: essa linha é transversal. Plote a exposição. Retorne a sua mochila e prossiga com a medição de passos em direção à árvore até chegar em frente à próxima exposição. Esse método é bastante rápido, pois, uma vez que a direção dos caminhamentos transversais (ou “linha de estações” de um levantamento comum) está determinada, não há necessidade de usar sua bússola novamente; desde que as transversais sejam pequenas, você deve ser capaz de calcular o ângulo reto da linha transversal a partir da linha principal para comprimentos pequenos, porém verifique com a bússola linhas transversais mais longas.



Uma variação desse método pode ser usada em mapas que tenham cercas ou muros. Use a cerca como a sua linha de estações. Conte com passos a partir do canto do muro ou cerca e obtenha a transversal a partir dessa linha. Se a cerca for longa, tire uma orientação ocasional com a bússola para um ponto distante e plote a orientação no sentido oposto. Ela deve passar pelo muro onde você está..

Dica: Faça pleno uso de cercas e muros impressos nos mapas para se localizar. Uma intersecção de cercas e feições do gênero fornece pontos conhecidos. Também compare as informações de seu GPS com as feições no mapa.


Intesecção de orientações e feições linerares

Sua posição em qualquer elemento alongado mostrado em um mapa, como uma rodovia, uma trilha, uma cerca ou um rio, pode ser encontrada obtendo uma orientação com uma bússola de qualquer feição que possa ser identificada no mapa. Plote a orientação inversa a partir dessa feição (pontos A, B e C na Figura 3.8) para intersectar a trajetória de um rio e assim por diante, e essa será a sua posição. Quando for possível, verifique com uma segunda orientação de outro ponto. Escola seus pontos para que as orientações inversas cortem a cerca ou outro elemento linear em um ângulo entre 60º e 90º para melhores resultados (Figura 3.9).



Ressecção com a bússola: intersecção de três orientações inversas

A ressecção com a bússola é feita onde o solo é muito acidentado, muito íngreme, muito pantanoso ou quando as distâncias são muito longas para serem medidas com passos. As orientações com a bússola são feitas no ponto desconhecido para três feições facilmente reconhecíveis no mapa, escolhidas para que suas orientações inversas se intersectem em ângulos entre 60º e 90º. As intersecções ideais, infelizmente, raramente são possíveis, porém deve-se sempre tentar aproximar-se delas (Figura 3.10). As feições nas quais os orientações são feitas incluem cantos de muros e cercas, casas de fazendas, currais de ovelhas, intersecções de trilhas e rios, estação de triangulação ou até mesmo uma pilha de pedras que você tenha construído em um ponto proeminente para esse propósito.

Geralmente, as orientações não se intersectam, mas forma um triângulo de erro. Se o triângulo tem menos de 1 mm transversalmente, pegue o centro como a posição correta. Caso seja maior, verifique suas orientações e sua plotagem. Se ainda existe um triângulo, aviste, se conseguir, um quanto ponto. Se o erro persistir, é possível que você tenha coloca do a correção errada para declinação magnética em sua bússola, talvez você esteja em uma rocha com magnetita, como um serpentinito, esteja muito próximo de um portão de ferro ou de uma torre de alta tensão elétrica; você ainda pode ter lido sua bússola usando um bracelete magnético anti-reumatismo ou estar com seu martelo pendurado no cinto. Na pior das hipóteses, sua bússola pode não estar apta para o trabalho. Quando estiver plotando, não desenhe linhas de orientação desde o distante ponto de observação, mas somente longas o suficiente para cruzar sua posição. Não registre as linhas, somente desenhe-as levemente e, quando seu ponto estiver estabelecido, apague-as.





Texto extraído de: LISLE, R. e outros. Mapeamento geológico básico: guia geológico de campo. Porto Alegre : Bookman, 2014.

sábado, 22 de agosto de 2015

Equipamentos de Campo

Os geólogos precisam de vários equipamentos de campo. A seguir, vamos falar sobre o uso e a utilidade deles.

Martelos e Cinzéis

Qualquer geólogo que vai ao campo precisa de, no mínimo, um martelo para quebrar rochas. Para mapeamento de rochas ígneas e metamórficas mais duras, geralmente se usa um martelo mais pesado. Entretanto, martelar nem sempre é a melhor maneira de coletar rochas ou fósseis. Por isso, estar de posse de cinzéis pode ser garantia de um trabalho de melhor qualidade.



Bússolas

A bússola é um instrumento indispensável em trabalhos geológicos de campo; através dela o geólogo pode não apenas fazer medidas estruturais, mas também localizar pontos, orientar serviços de campo e se orientar durante os deslocamentos.




Lupas de mão




Trenas


Porta-mapas



Caderneta de campo

Nunca economize na sua caderneta de campo: boa qualidade, à prova d’água, capa dura, forte e boa encadernação. Ideal que caiba no bolso. Opte por aquelas com papel milimetrado.

Escalas

São mais apropriadas que réguas. Muitas possuem cantos arredondados e exibem gravações em ambos os lados, com quatro diferentes graduações.
Graduações: 1:50.000 1:25.000 – 1:12.500 – 1:10.000.


Transferidores

Características práticas: 10 a 20 cm de diâmetro, semicirculares, transparentes.



Canetas de mapeamento

Tenha um conjunto c/ diferentes espessuras de linha. Não as utilize em campo. Pense bem antes de usar tinta em seu mapa. Tenha caneta marcador permanente p/anotar em sacos de amostras.

Lápis

2H ou 4H (duro): traçar orientações. H ou 2H (macio): marcar direções e anotações no mapa. 2H, HB ou F: para escrever na caderneta de campo
Não use B (borra). Compre lápis c/borracha. Tenha lápis coloridos.

Ácido clorídrico diluído

Leve sempre um frasco de ác. clorídrico a 10% na mochila. Para um dia de trabalho, 5 mL são suficientes. As embalagens de conta-gotas de colírios ou similares são excelentes; porém, não se esqueça de identificá-las.

GPS

Os GPS não são equipamentos fundamentais para o mapeamento, mas são essenciais se você estiver trabalhando em regiões remotas, como desertos. Entretanto, são uma ajuda extra, segura e útil.



Os aparelhos GPS mais baratos vão fornecer somente as coordenadas de localização, enquanto que os mais caros vão indicar a localização atual em um mapa-base digital carregado previamente ou em fotografias aéreas mostradas em uma pequena tela. Todos os modelos têm a capacidade de armazenar um grande número de pontos de localização intermediários na memória. Quando você estiver em campo, seu mapa-base de papel provavelmente usará um sistema local de coordenadas cartográficas UTM, porém o GPS fornece localizações de latitude e longitude globais. É de extrema importância que a latitude/longitude informada pelo GPS possa ser recalculada pelo aparelho, exatamente com o mesmo sistema de coordenadas locais do seu mapa-base; caso contrário, seu GPS perderá a maior parte da funcionalidade em mapeamento e servirá apenas como um dispositivo de segurança. A biblioteca para conversões de mapas disponíveis difere em todos os GPS. Por isso, confira se seu GPS é compatível com o país no qual você planeja trabalhar.


Estereograma (stereonet)

O estereograma é uma calculadora gráfica para o geólogo, útil para uma grande variedade de problemas estruturais: caimento, direção, mergulho. É uma ferramenta qualitativa de fácil uso para a inserção de pontos e vetores em um sistema de projeção de coordenadas tridimensionais.

São usados o de Schmidt-Lambert (rede de igual área) e o de  Wulff (rede de igual ângulo). No entanto a Rede de Schmidt é a mais usada em geologia estrutural por permitir um estudo estatístico mais acurado.

Para aprender mais sobre o uso do estereograma, visite a página:


Material  extraído e modificado a partir de: LISLE, R. e outros. Mapeamento geológico básico: guia geológico de campo. Porto Alegre : Bookman, 2014.


Uso da bússola e medição de parâmetros de rocha

Como usar uma bússola
         
A bússola é um ímã, assim como o planeta Terra. Todo ímã tem um pólo norte e outro sul, sendo que os opostos se atraem. Por isso, o pólo norte magnético da bússola (ponteiro pintado) aponta para o pólo sul magnético do planeta que, por coincidência, está perto do pólo norte geográfico da Terra.

"Algumas pessoas não sabem que a Terra é um ímã. Só que o pólo sul magnético do planeta fica perto do pólo norte geográfico. É por isso que a bússola está sempre apontando para o norte", explicou o professor de Física Bassam Ferdinian.
          
Que tipo de bússola?
       Vamos nos restringir às bússolas de geólogo.
A bússola de Geólogo
A bússola de Geólogo é um aparelho usado para atividades de campo mais técnicas como: Geologia, Engenharia Civil, Geomorfologia e Espeleologia.
Ela é a combinação de vários aparelhos: bússola, clinômetro, prumo, nível.


Uma bússola sempre aponta para o Pólo Norte?
        Respostas corretas poderiam ser: Sim! ; Nem sempre!; Quase nunca!
        Depende apenas de qual Norte estamos falando, de que bússola temos, e de onde estamos.  Vamos entender?
        A bússola eletrônica de um GPS e alguns modelos de bússolas eletrônicas (se assim configuradas) podem apontar para o Norte, pois elas podem se orientar por uma rede de satélites.  Já as bússolas magnéticas (e uma boa parte das eletrônicas),  não.  Aliás,  antes disso, devemos entender que existem mais de um Norte.
·         1.        Norte Verdadeiro (TN) - Posição geográfica da interseção do eixo de rotação da terra, com a superfície no hemisfério Norte. Este é o Norte Geográfico.
·         2.        Norte Astronômico (AN)  Aponta para a estrela Polar visível no hemisfério Norte. Tem um desvio de aproximadamente 0.7º em relação ao Norte Verdadeiro
·         3.        Norte Magnético (MN)  Ponto de convergência das linhas do campo magnético da terra. Tem um desvio de 10º para Leste.
·         4.        Norte da Bússola (CN)  É a direção da reta tangente à linha do campo magnético da localidade.  Complicado? Bem a explicação mais simples,  é a seguinte:  as linhas de  um campo magnético são curvas, como naqueles ímãs dos livros de segundo grau.  Mas para piorar,  no caso da Terra, elas são tortas,  e a agulha da bússola se mantém alinhada com esta linha de campo.  Os erros podem variar de 0 até algo perto de 35º,  muda com a latitude, longitude, altitude, e com a ocorrência de anomalias magnéticas. (???)  Calma, vamos entender isso logo adiante.

Uma dúvida sobre polaridade
        Se a Física ensina que em magnetismo pólos iguais se repelem, como é que a ponta Norte da agulha aponta para o Pólo Norte?  Será que os pólos da Terra tem nome trocado, ou são os pólos da agulha que tem os nomes trocados?   Nenhum dos dois.          Por convenção,  foi chamado de Pólo Norte Magnético aquele que ficava perto do Pólo Norte Geográfico.  A agulha da bússola é um magneto,  e por convenção, leva o nome de Norte a extremidade de um magneto que aponta  para o Norte.  Tudo claro agora?

Para fins de cartografia e orientação, qual o Norte interessa?
        Sem dúvida, o Norte Verdadeiro ou seja o Geográfico.  Por convenção,  o alinhamento vertical dos mapas aponta sempre para o Norte Verdadeiro.

Declinação Magnética
        Para que uma bússola possa apontar para o Norte Verdadeiro,  é necessário fazer uma correção em seu círculo graduado. O valor em graus desta correção,  é chamada “Declinação Magnética”. 
        Por que declinação e não inclinação?   Simples,  quem criou o termo foram pessoas do hemisfério norte, onde o campo magnético desvia-se para Oeste, e por isso devem-se subtrair do Azimute alguns graus para fazer a correção.  Por isso eles declinam a medida.  Nós aqui acrescentamos alguns graus ao Azimute, mas (sempre querendo concordar com os primos do Norte), usamos o mesmo termo “declinar”.

Vale a pena o trabalho de declinar a bússola?
        A tabela abaixo mostra a diferença em graus entre o Norte Verdadeiro e a Direção apontada pela bússola.  Esta diferença é a declinação a ser aplicada para diferentes regiões do globo.  É comum, e errado pensar que a declinação é a diferença entre o Norte Verdadeiro e o Norte Magnético.  Se fosse assim, ela seria constante para  qualquer lugar do planeta.
Localidade
Coordenadas
Declinação
Sydney - Austrália
34.0ºS 151.5ºE
13 ºE
Anchorage - USA
61.5ºN 150.0ºW
23 ºE
Buenos Aires - Argentina
34.5ºS 058.0ºW
06 ºW
Montreal - Canadá
45.5ºN 073.5ºW
16 ºW
Los Angeles - USA
34.0ºN 118.5ºW
14 ºE
Perth - Austrália
32.0ºS 116.0ºE
02 ºW
Rio de Janeiro - Brasil
23.0ºS 043.0ºW
21 ºW
São Petersburgo - Rússia
60.0ºN 030.5ºE
08 ºE
Ostrov, Bennetta, New Siberian Islands
77.0ºN 148.0ºE
11 ºW
        * Usando o modelo IGRF95 para a data de 1998, ignorando as anomalias.

Ok, só não entendi a legenda da tabela!
        De tempos em tempos, são levantados dados de campo,  e feitos modelos matemáticos que calculam a declinação para uma localidade em um determinado ano.  O IGRF95 é o modelo hoje em vigor. Esta tabela foi obtida segundo cálculos deste modelo.

Ótimo,... mas e as “Anomalias” ?
        O campo magnético da terra não é fruto apenas da  “materiais ferromagnéticos” que a constituem.  Ele é gerado principalmente por correntes subterrâneas de magma complexas, formando vórtices,  e cada um destes vórtices (redemoinhos de lava) provocam a formação de um dipolo magnético.  Estes dipolos tem intensidade diferente, orientação diferente, e são variáveis ao longo do tempo.  Além disso,  o Vento Solar interfere deformando o campo magnético da terra. Como se não bastasse,  ainda podem existir depósitos de minérios ferromagnéticos que também influem localmente.  No geral,  o campo é relativamente bem orientado, mas em alguns lugares (Ex: Triângulo das Bermudas),  este erro é enorme e relativamente dinâmico. A tabela acima,  apresenta medidas genéricas, e não se responsabiliza por anomalias locais. 

A carta abaixo mostra através de curvas isogônicas, qual a declinação magnética em cada ponto do globo.
Por exemplo,  a linha de valor -28º  que passa sobre o sertão do nordeste brasileiro, indica que ao usar a bússola em qualquer ponto na proximidade desta linha, a bússola deverá ser declinada em 28º para Oeste.  Beleza?!




Mas a minha caminhada não é no Nordeste.  Como saber a declinação correta?
        Hoje, você visita um site da internet onde existe uma interface onde você informa a localidade, a Latitude, a Longitude  e o ano para o qual você quer a declinação.  O Observatório Nacional oferece este serviço. 
Acesse: http://www.on.br/conteudo/modelo.php?endereco=servicos/servicos.html

Aí,  você resolveu economizar uma grana e comprar sua bússola no exterior...
        Cuidado! Principalmente com as bússolas de geólogo, pois com estas, queremos e esperamos que sejam precisas. Saiba que uma bússola tem que ser balanceada para a latitude onde ela vai trabalha. O vendedor deverá remeter a bússola para o fabricante, para que eles calibrem a agulha.
        Na fábrica, eles colocam um peso na ponta Sul  (no nosso caso),  para que ela fique equilibrada.  A intensidade deste peso depende da sua latitude. Se não fizer isso, a agulha não vai ficar equilibrada sobre o eixo central.
        Bússolas geográficas,  são mais baratas,  e são construídas para funcionarem mais ou menos bem entre os trópicos.

Ok, já sei que tenho que calibrar e declinar a bússola, e que correção aplicar.  Mas como é que se declina a bússola?
        As bússolas Brunton mais modernas, bem como as Silva 15 (Ranger), Suunto MC-1, e Nexus N15 possuem um parafuso de ajuste.  Este parafuso de ajuste, ligado a um sistema de engrenagem,  faz o disco de azimute girar,  ou então um fundo de acrílico girar.  Isto facilita muito,  pois as linhas meridianas marcadas no disco de acrílico podem ser alinhadas com os meridianos do mapa.
        Conclusão:  Se for comprar uma bússola, certifique-se de que ela tenha o parafuso para ajuste de declinação.

Usando a bússola para orientar um mapa
        As próximas instruções devem, se possível, serem seguidas com um mapa e a bússola em mãos. Vai facilitar muito o entendimento do texto.


A função mais básica de uma bússola em uma caminhada, é orientar corretamente o mapa. 
Portanto, para orientar o mapa, precisamos da direção do Norte Geográfico, ou seja, de uma bússola que o indique.

Usando a bússola de geólogo, repouse-a declinada sobre o mapa, fazendo o eixo longitudinal dela (da lingüeta) coincidir com o meridiano. Então gire o mapa até que a ponta "N" da agulha coincida com o Zero da escala. Neste ponto o mapa estará orientado.  Na figura ao lado, temos a bússola declinada de 19ºW,  e o mapa deve ainda ser girado para a esquerda até que a       agulha "N" coincida com o Zero da escala.



      

Extraindo uma direção para caminhar
        É normal você identificar sua posição, orientar o mapa, e visar um ponto que você quer atingir. Neste caso, você vai querer saber qual a direção (Azimute) em que você deve caminhar para ir direto ao ponto.
        Para isso, antes de orientar o mapa, identifique no mapa sua posição atual e seu ponto de destino.  No mapa abaixo, imagine que você está na Faz. Brumado (pertinho da estrada), e quer caminhar até o pico da Pedra Aguda. 




     
 Achou?  Legal!  Use a régua de acrílico da bússola, e com um lápis, faça um traço que una estes pontos (traço vermelho). Se achar necessário, trace uma reta paralela ao meridiano, pois esta indica a direção norte no mapa (traço azul).  Coloque a bússola sobre o mapa, de preferência, com o eixo central sobre a sua posição atual.  Gire o mapa até que ele esteja corretamente orientado (até que a ponta "N" da agulha coincida com o Zero da escala).  



       
     Olhando o ponto onde a linha que você riscou (linha vermelha), intercepta o círculo graduado da bússola, você poderá ver a direção a ser tomada (260º com o Norte, medido no sentido horário).   Agora, agora guarde o mapa, e com a bússola na mão, gire a bússola até que a agulha "N" aponte para o ângulo 260º no círculo graduado. Neste ponto, a lingüeta (mira) da bússola, estará apontando para o Pico da Pedra Aguda.  À medida do possível, caminhe nesta direção, sempre de olho na bússola. Se estiver com a bússola geográfica, siga na direção apontada pela seta vermelha gravada no acrílico. 
        Acontece que a bússola (que é parente do GPS), adora indicar o pior caminho. Com isso, você de vez em quando, vai ter que sair da direção correta para desviar de algum obstáculo (morro, pântano, espinheiro, abismo, etc.)  Ao fazer um desvio significativo, ou depois de caminhar um bocado, você deve reavaliar a direção.  Veja que a direção era correta, para quem estava lá na sede da Fazenda.  
        No nosso exemplo, tem um morro no caminho (aquele cujo pico está na cota de 997 m).  Claro que você desviou, provavelmente pela esquerda.  Quando você optou por fazer este desvio, você deverá novamente reavaliar a direção.  Veja no mapa abaixo, o caminho pontilhado verde, é o que você caminhou,  e a reta verde, é sua nova direção.


        
      Vemos agora que o Azimute deixa de ser 260º para 275º.   Ah!  desculpe a mancada, a reta que indica o norte traz o nome NM (Norte Magnético), quando na verdade é o NG (Norte Geográfico). 
      Acho que agora ficou claro, porque muita gente se perde navegando com bússola.  A direção tem que ser constantemente reavaliada!
        Veja que talvez não fosse necessário, visto que o Pico da Pedra Aguda deve ser bem visível, e está próximo (cerca de 4km).  Mas ele poderia ser uma depressão,  um encontro de rios, uma caverna, ou qualquer outro ponto menos evidente.

Texto obtido em: http://www.geomundo.com.br/geografia-30154.htm. Acesso em: 07/5/2014.

Agora que você se inteirou do uso da bússola, aprenda a usá-la em geologia estrutural. Clique em: como medir parâmetros de rocha.